Hoje escrevo sobre aprender a língua do país que nos acolhe
quando lá pretendemos viver, com base na minha experiência pessoal.
Logo
na minha primeira semana em Hamburgo comecei a frequentar um curso de alemão
intensivo, o chamado curso de integração para
emigrantes sobre o qual referi aqui e aqui.
Devo dizer que foi a melhor coisa que fiz quando para aqui vim morar: aprender
alemão de raiz. Eu não sabia nada de alemão e isso revelou-se uma vantagem para
mim: não tinha quaisquer "erros vincados" que se tornam complicados mais tarde
de corrigir. Foi como voltar para a escola primária! A duração normal de um
curso deste tipo é de 6 meses. No final desse tempo é suposto estar-se apto para
fazer o exame que dará o tal Zertifikat
Deutsch (se se passar, é claro). Como ainda não me sentia segura em relação
ao alemão que falava, acabei por frequentar as aulas por mais um mês e, passado
outro, fazer o exame. Passei.
Terminado o curso de integração para
emigrantes continuei a aprender mas no Goethe Institut (o Instituto Camões cá do
sítio) como contei aqui.
Foram mais seis meses de aprendizagem, 3 aulas por semana de hora e meia em
horário pós-laboral. Passado esse tempo, os 250€/mês começaram a pesar na
carteira. Acabei por mudar para uma escola mais baratinha apenas a frequentar
uma aula por semana. E lá continuo. Até hoje. Aliás, até Julho!
Voltando
um pouco atrás, dois meses depois de ter chegado à Alemanha, conheci a K. com
quem comecei a fazer "Tandem". Tandem, como já vos expliquei aqui é
uma forma que duas pessoas têm de trocar conhecimentos. No meu caso e no da K.
os conhecimentos foram as línguas alemã e portuguesa, respectivamente. Ainda
continuamos a encontrar-nos uma vez por semana para falarmos a tal horita "só em
português" e de seguida a horita "só em alemão". Durante estes três anos de
Tandem nasceu entre mim e a K. uma grande amizade. Podem não acreditar, mas nós
ainda hoje fazemos Tandem!
Esta forma de aprender ajudou-nos bastante pois
criou uma relação de confiança entre ambas. Sem stress e sem o medo de errar e
sermos ridicularizadas :P (como pode acontecer quando se está em grupo) temos
evoluido bastante. Não é para me gabar, mas a K. está a falar muuuuuito bem
português. E ela estava no mesmo patamar que eu quando começámos (não esquecer
que ela não vive em Portugal).
Neste momento observo a minha estante e
conto quinze livros em alemão, entre os quais, dez encontram-se lidos. Como
qualquer pessoa, comecei pelos livros para criança que são no total oito :P. No
início da aprendizagem não há outra hipótese senão ler livros infantis. Porém,
com o tempo começa-se a "querer mais". No meu último aniversário recebi um livro
de uma professora de alemão, "Die Entdeckung der Currywurst", que já foi
começado, mas rapidamente abandonado. Mas ainda não desisti! Tenho esperança de
um dia recomeçar a sua leitura. Quanto a revistas, posso aconselhar esta.
Falar
em alemão, mesmo quando se tem a oportunidade de falar em inglês, é importante.
Obviamente que depende muito das situações. Por exemplo, quando se está longe de
casa, da família e dos amigos, muitas vezes o que precisamos é de desabafar e é
muito importante que o façamos numa língua em que temos a certeza que nos
entendem. Ainda hoje quando converso com a minha melhor amiga alemã :D acontece
"escorregarmos para o inglês", mesmo ela falando tão bem português como fala, e
eu o alemão que falo.
Há palavras que descrevem sentimentos, sobre os quais
quero contar logo, e que não podem esperar que encontre em alemão as palavras
"mais parecidas" com aquilo que quero dizer. Imaginem: a lágrima ao canto do
olho que deveria ser de tristeza por algo de mau que me aconteceu e que quero
partilhar, transforma-se em lágrima de raiva e frustração porque ninguém está a
perceber puto do que quero contar! (Puf...! Finalmente esses tempos já lá
vão.)
Em situações destas, quero lá saber o português, quero lá saber do
alemão. Quero é que ela entenda o que estou a sentir! E daí o uso do inglês.
Ah! "The last but not the least": abrir o círculo de amigos a todos, que no caso de se viver na Alemanha,
convém que inclua alemães :). Pode ser tendencial que um emigrante acabe por se
rodear apenas por aqueles que falam a sua língua materna, com quem se sente à
vontade, portanto. Óbvio. Para mim é claro o porquê deste comportamento. A
língua é uma ferramenta que quem não a tem não pode usar para se exprimir, para
conversar (como já falei aqui).
No meu/nosso caso, a vida foi sempre preenchida com amigos de todos os cantos do
mundo. Sempre fomos assim e acho que nada mudará esta nossa maneira de ser que
na verdade só nos tem trazido alegria. Nem que seja a alegria de partilhar a
vida nas diferentes perspectivas dadas por essas pessoas.
Posso concluir
que até me tenho esforçado bastante para aprender e continuar a comunicar em
alemão. Estou tranquila comigo mesma em relação a este assunto. Claro que
existem 1001 maneiras de aprender uma língua. Eu procurei as que senti
adequarem-se mais a mim. Tem sido 3 anos de aprendizagem constante. Não tem sido
fácil, mas o que eu obtive (e ainda vou obter) dessa ferramenta (o conhecimento
da língua alemã) permitiu-me passar por várias portas. Fossem elas a nível
profissional ou pessoal.
Se dá trabalho aprender uma nova língua? A mim
deu. Se dá gozo? Houve alturas em que sim e outras em que não.
Se valeu e
vale a pena? :) Esta é fácil: SIM.
(in O blog que já devia ter sido escrito, 23/06/2010)
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