Para quem ainda não sabe, voltei a ficar desempregada.
Os textos deste
blogue sempre foram escritos com muito carinho e “energia positiva”… Para que o
pessoal não perdesse a motivação de ir em frente e procurar novos rumos na sua
vida, tal como eu fiz.
Mas a questão é que tenho recebido mails a pedir
informação disto e daquilo, e se a empresa onde trabalho :) está a recrutar
pessoal.
Acho que está na altura de contar mais um episódio da minha
aventura por estas terras, principalmente agora que o
partido a Sra. Merkel veio dizer que a Alemanha quer recrutar pessoal
especializado português (e espanhol).
De Junho a Setembro de 2010
estive a fazer formação na área da energia solar e eólica. Formação esta que
paguei na íntegra do meu bolso (3.000€ para falarmos de números). Nessa formação
conheci pessoal alemão na mesma condição que eu, com formação superior, mas sem
trabalho. Eu era a mais nova do grupo pois a faixa etária média devia rondar os
45 anos. Éramos uma turma bastante dinâmica e colaboradora, um ambiente que não
estava à espera de vir encontrar numa acção de formação. Todos se ajudaram uns
aos outros, deram dicas sobre como optimizar o projecto da equipa vizinha, e
sugestões de como tornar as aulas ainda mais interessantes. As alegrias foram
partilhadas, bem como as frustrações. E quando falo de frustrações refiro-me ao
facto de pessoas com 45 anos, com família para sustentar, que foram despedidas e
se viram obrigadas a começar tudo de novo. É, portanto, com este pessoal que
nós, portugueses, temos de concorrer! Engenheiros civis, engenheiros
electrotécnicos, arquitectos, técnicos de várias áreas, etc. (para aqueles mais
distraídos que dizem lerem o meu blogue mas que insistem em escrever-me a
perguntar este tipo de informação).
O fim da nossa formação em energia
eólica coincidiu com a realização da maior feira de eólicas do mundo. Decidimos
organizar-nos e deslocar-nos a Husum. É verdade, esta feira realiza-se na
Alemanha mas não numa cidade como Berlim, ou Hamburgo, ou até Estugarda.
Realiza-se numa cidadezinha, a 140 km de Hamburgo, para norte, chamada Husum.
Tudo
o que se passa na área da energia eólica a nível mundial, se passa ali, durante
uma semana, onde empresas como a Repower, Nordex, Vestas, Suzlon, Wind Power, …,
se fazem representar.
A deslocação a essa feira tinha o mesmo objectivo para todos
nós: apresentarmo-nos às empresas como pessoal especializado e disponível para
trabalhar para qualquer uma delas. Íamos atrás de um sonho, o de conseguir
trabalho numa grande empresa na área das eólicas.
Eu fui das únicas que
consegui realizar o sonho. Numa das minhas investidas, contactei com uma das
empresas e passado uma semana, tal como me tinham prometido, telefonaram-me para
marcar uma entrevista.
A entrevista correu muito bem e ofereceram-me a
possibilidade de começar com um estágio, remunerado, de dois meses. Aceitei,
claro! A empresa dedicava-se apenas a dimensionar as torres eólicas e nada tinha
a ver com produção de energia (assunto abordado na tal formação que tinha
feito). Dimensionamento de estruturas era algo em que eu não tinha qualquer
experiência profissional e o meu último contacto com tensões, resistência dos materiais, momentos de inércia, tensões de rotura, etc., tinha sido durante o
meu curso na universidade. Há 6 anos, portanto.
Um mês e uma semana
depois do início do meu estágio já tinha terminado a tarefa para a qual tinha
sido contratada :) Os elogios vieram e a intenção de me ter na equipa para 2011,
também. As minhas bases em matemática e física tinha-os impressionado, bem como
a minha capacidade de procurar resolver os problemas com base na teoria, sozinha
(a nossa maior vantagem, como portugueses: somos autodidactas. Obrigada,
F.C.T.U.C.!). Várias foram as vezes que se viraram para mim e perguntaram “Tens
dúvidas, Ana?” e eu respondia “Não. Pelo menos, por enquanto…”
Na véspera
de ir para Portugal, passar o Natal em família, no dia em que pensava que ia
conversar com o meu patrão sobre o meu contrato para 2011, recebo a notícia que afinal a empresa
não teria capacidade financeira para me contratar porque iriam entrar em
processo de insolvência.
Caiu-me tudo por terra…
Chegada a Portugal,
sempre que me perguntavam como ia o trabalho, respondia sempre “muito bem!”. Só
passado 3 dias tive coragem de dizer aos meus pais, que mais uma vez, estava
desempregada. Porque na verdade fiquei sem forças para explicar e contar a
mesma história, vezes sem conta… E quando se emigra, e se submete a ficar longe
da família e amigos, é para se ir para uma situação melhor.
Pela terceira
vez tenho de recomeçar o processo de encontrar emprego na Alemanha. Reescrever o
CV, cartas de apresentação, estudar o mercado de oferta de
emprego.
Portanto, se calhar é a minha vez de perguntar aos meus
leitores, como tantas vezes me perguntaram a mim via e-mail, “não me arranjam um
trabalhito?”
Agora que saiu a notícia que a Alemanha quer recrutar
pessoal especializado português, já estou a imaginar a minha caixa de correio
cheia de “pedidos de informação”.
Pessoal: a notícia não é novidade! :) E
não diz nada de novo: países como a Alemanha sempre procuraram pessoal
especializado, sejam eles alemães, tugas ou até chineses. A questão é que o
pessoal alemão é caro e é pouco; aos chineses ninguém os quer ver nem pintados e
são precisos na China para concorrerem com países como a Alemanha. Sobra o
pessoal dos países do sul da Europa, que tem boa formação (que não fica atrás de
nenhuma outra de um país do norte da Europa!) e que está à rasca, sem emprego, e
por isso é pessoal barato. Mas qual é a novidade??? Foi preciso verem a notícia
escrita no jornal para acordarem para a vida?
Agora, o caminho até ao
mercado de trabalho alemão, ou até qualquer outro, faz-se “puxando pela cabeça”.
O pessoal aqui, na Alemanha, é exigente na recepção das candidaturas. Não é como em Portugal
que existe sempre alguém que conhece alguém, que pode confirmar com um simples
telefonema os dados que escrevem no vosso CV (quando não é por cunha…). Aqui a
cunha, chamada Vitamina B, também existe. Mas essa é para os alemães :) Os
restantes, como nós, temos de mostrar no papel o que valemos. E sobre essa
matéria, neste blogue já existe muita informação. Por isso, façam o trabalho de
casa, e por favor, não me entupam a caixa de correio electrónico com pedidos de
informação e, principalmente, sobre trabalho! :D
P.S.: Estou mesmo a
precisar de carregar as baterias… Há por aí alguém com “energia positiva a mais”
que me possa transferir um bocadinho? Agradecida.
(in O blog que já devia ter aido escrito, 23/01/2011)
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