"gostava de te perguntar se quando te mudas-te para aí sempre mantiveste a certeza que era Eng. Civil que querias exercer."
Quando eu me mudei para aqui, não tinha certezas de nada. E só mais tarde comecei a perceber que o tempo, afinal, não "passa" mas sim, "corre". E muito depressa. A aprendizagem da língua é lenta. Tudo passa a ser uma corrida contra o tempo pois, 2 meses sem emprego, passam a 5 meses e quando dás por ti, já passou um ano, e não sabes como justificá-lo no teu CV :) Agora tenho a certeza de que é como engenheira civil que quero trabalhar. Foi uma decisão que tomei desde cedo. Tive oportunidade de fazer de Babysiter, tirar cafés, e a cada momento que o fazia, a certeza do que queria, crescia: era como engenheira que queria trabalhar. Eu não saí de Portugal, para longe da família e amigos, para vir "ganhar dinheiro" (pois era isso que eu teria em troca se fosse trabalhar como Babysiter, e etc...). Eu vim porque senti que podia ser mais como engenheira civil. Sentia-me sim, encurralada e "injustiçada" por não ter tido a mesma oportunidade dos meus colegas. "Oportunidade" leia-se como "conhecimentos / boa rede de contactos / família no ramo". Sentia-me a embrutecer, como pessoa, só porque tive de ir para a obra (já que lugares como projectista e lugares em câmaras municipais estavam cheios demais para eu merecer um lugar). Foi a isso que me agarrei e não me deixei conformar. Li, estudei muito sobre o mercado de trabalho na Alemanha, tentei, fui a entrevistas, melhorei a minha performance, melhorei CV, melhorei alemão, e por aí em diante. Foi, sim, um processo de "melhoramento de auto-estima", acima de tudo. Porque eu tinha de saber vender-me como uma profissional. E eu estava completamente "bloqueada" pela experiência portuguesa. Que não nos deixa ver quem somos, e o que podemos ser, do que somos capazes.
Consegui trabalhar como engenheira civil, nestes 4 anos que cá estou, em duas empresas alemãs, e neste momento encontro-me em processo de selecção de candidatos para outras duas empresas. Foi um longo processo, sim. Mas o que consegui, consegui-o só por mim. Sem cunhas. Sem conhecimentos. Sem "mexer cordelinhos".
Mas tenho que dizer que nada seria possível se o meu marido não tivesse assegurado as contas durante os tempos em que estive desempregada. Essa é uma questão que vais ter de "tomar consciência": os homens, por si, tem menos complexos que nós, mulheres, em relação ao trabalho e auto-estima. Provavelmente, o teu namorado irá conseguir um trabalho primeiro que tu, sendo ele da área da informática (conheço pelo menos 4 engenheiros informáticos portugueses a trabalhar aqui e já me disseram que se eu fosse informática, já teria novamente trabalho...), e nessa área os conhecimentos de alemão não são assim tão importantes. A somar a isso, (imagino que estejas na casa dos 30 anos) a idade numa mulher conta. Podem dizer que não, mas a verdade é que conta. Agora andam a pressionar, aqui na Alemanha, para se mudar a lei e que se obrigue as empresas a terem cotas de mulheres trabalhadoras. Mas a verdade é que, até aos 33 anos, és sim, uma "possível mãe" e isso representa despesas para a empresa. Se uma empresa tiver de escolher entre ti e um homem, vai escolher o homem. Nada de novo para ti, portanto, como engenheira civil :)
Quanto ao "Dia da Alemanha", também eu fui ao Dia da Noruega, na "minha altura" :) Facilita o processo de selecção, claro, a existência de uma organização desse tipo. Mas funcionará se tu fores com a atitude certa - como se fosses para uma entrevista (!). Presta bem atenção no que te vou escrever: tu tens de ir lá "com tudo", desde fatiota à executiva, com segurança em ti mesma, a falar pelos cotovelos no teu fantástico inglês (já que alemão ainda não dominas), com um fantástico CV (nada de mais do que 2 páginas, e POR FAVOR esquece o CV em Europass!!!!!!! É só desperdício de espaço e informação), com vários exemplares tipo um para cada empresa (quantas empresas lá vão estar mesmo? Ou é uma agência de recrutamento geral?), e um sorriso à boa portuguesa de deixar todos derretidos com a sua simpatia. Estuda o mercado de trabalho que lá vai estar representado. Estuda as empresas que vão recrutar. Selecciona e estuda mais detalhadamente as empresas que te interessam. Tu tens de ir com "um passo à frente de todos os outros". Imagina as centenas de engenheiros que lá vão estar na mesma situação que tu...
E de resto, boa sorte!
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